Em 2012 a Mundaréu completa dez anos de atuação com negócios populares de produção artesanal e de pequenos manufaturados, o que tem nos levado a muitas reflexões sobre nossas experiências.
A opção de trabalhar com grupos de produção artesanal e de pequenas manufaturas têm como objetivo atender a populações de baixa escolaridade e pouca ou nenhuma qualificação profissional. Estes não se beneficiam de políticas governamentais de inclusão socioeconômicas, com exceção do Bolsa Família. O patrimônio laboral dessa população está, em geral, relacionado ao domínio de habilidades e técnicas manuais, o que pode ser potencializado com um trabalho direcionado. A criação de um empreendimento popular pressupõe uma mudança de valores e de comportamento. O êxito desses empreendimentos depende da criação de um espírito coletivo, o que implica em mudanças individuais de comportamento que impactam na comunidade. A formação de pequenos negócios, com estruturas coletivas de produção e decisão, é um desafio maior do que criar uma microempresa com estrutura de poder centralizada. O processo de capacitação, em geral estimula nos empreendedores, a necessidade de melhoria de sua qualificação. Muitos tomam a iniciativa de inscrever-se em cursos que reforcem suas habilidades técnicas ou de retomar o estudo formal. No entanto, essas mudanças são heterogêneas e não acontecem ao mesmo tempo, e nem para todos os membros dos grupos de produção. No percurso de formação de um empreendimento são muitos os desafios que o grupo enfrenta até a sua “maioridade”. Na metodologia desenvolvida pela Mundaréu chamamos essa trajetória de Momentos da formação de um empreendimento popular, que vai desde a organização do grupo, até sua formalização, com ganhos continuados e autonomia. Mesmo que a experiência nos possibilite abstrair momentos marcantes dessa trajetória, ela não é linear e nem se pode determinar um tempo para a qualificação e maturidade dos grupos, não é uma receita de bolo. No caso dos grupos que tem sucesso nessa trajetória, como em todos os negócios ele não é definitivo; não garante a sustentabilidade no longo prazo. Os empreendimentos passam por ciclos, e existe a necessidade de adequação a mudanças no cenário econômico, no perfil do mercado e da concorrência, muitas vezes com renovação das linhas de produtos e estratégias de prospecção de novos clientes. São poucos os grupos com qualificação para operar essas mudanças por conta própria, os mais amadurecidos conseguem contratar profissionais para cuidar dessas questões. Há necessidade de prover algum tipo de acompanhamento, que ajude a superar esses percalços. No trabalho com grupos de produção destacam-se duas situações: quando se começa do zero, ou seja, não existe o conjunto de pessoas articuladas e, portanto não existe habilidade definida e os grupos que podem estar em diferentes momentos do processo de constituição de seu negócio. No primeiro caso, quando se começa do zero, há necessidade de um período dedicado à sensibilização das pessoas interessadas, sobre os passos necessários para a criação de um negócio; a identificação das vocações e o patrimônio de “saberes” da comunidade. Além disso, oficinas informativas ajudam as pessoas a perceberem seu interesse e disposição de participar do empreendimento. Outro desafio é a identificação de líderes e empreendedores no grupo, aquelas pessoas que têm o sonho de empreender e vêem essa oportunidade como a concretização de seu desejo. Esse perfil é fundamental para o sucesso do negócio, e o processo de sensibilização inicial contribui bastante para identificar os que têm interesse de fato em serem donos de seu próprio negócio. Em função das aprendizagens adquiridas e de nossa metodologia de trabalho, consolidamos uma plataforma de consultoria que oferecemos a nossos parceiros, empresas e outras organizações. PROPOSTA DE CONSULTORIA MUNDARÉU 1. Diagnóstico socioeconômico para a definição de projetos de geração de renda. O conhecimento prévio do contexto onde se vai atuar é fundamental para definir o tipo de ação a ser implementada: conhecer o perfil do público, suas habilidades, as instâncias organizadas da sociedade que podem ser parceiras, dentre outros aspectos relevantes ao empreendimento. 2. Diagnósticos de grupos para identificar suas necessidades de apoio. No caso de empreendimentos já existentes, o diagnóstico facilita a percepção das dificuldades, assim como do conhecimento acumulado. Desse modo, é possível formular uma proposta a cada grupo, de acordo com o momento que esteja vivenciando. 3. Definição de estratégias comerciais No universo dos empreendimentos populares, observa-se uma diversidade considerável com relação aos tipos de grupos, seu contexto socioeconômico e geográfico, assim como dos produtos ou serviços que geram em sua atividade produtiva. No início da década passada, a classe média era o principal consumidor dos produtos artesanais e semimanufaturados de grupos populares de produção. Hoje o mercado é mais diversificado, o que cria necessidade de maior apuro ao analisar as oportunidades comerciais, os nichos de cada empreendimento. 4. Investimentos prioritários em negócios populares Na definição de investimentos e nos processos de seleção de iniciativas de geração de renda a serem apoiadas, torna-se necessário ter idéia dos perfis e dos resultados possíveis. Os empreendimentos podem demorar a “decolar” ou, ao contrário, amadurecer com rapidez. São muitos os fatores que podem contribuir com isso, como o nível de escolaridade dos participantes e o perfil das lideranças, dentre outros. Só uma avaliação adequada pode definir quais os grupos mais promissores. 5. Construção de indicadores qualitativos e quantitativos para avaliação de processos e resultados De um modo geral, consideramos as seguintes variáveis na avaliação dos empreendimentos de geração de trabalho e renda:
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